Endocardite Fúngica: Diagnóstico e Indicação Cirúrgica – O que o cirurgião precisa saber.
- Laio Wanderley
- 7 de jul.
- 3 min de leitura
No vídeo acima, que você pode ver completo aqui ou no YouTube, iremos perceber o aspecto da vegetação fúngica e tecer alguns comentários aqui descritos, baseados nas diretrizes ESC 2023.
A endocardite fúngica, embora rara, é uma forma extremamente grave de endocardite infecciosa (EI), com mortalidade superior a 50%. Ela é mais comum em três contextos clínicos específicos: presença de prótese valvar (PVE), uso de drogas injetáveis (PWID), e pacientes imunossuprimidos.
Diagnóstico: Quando pensar em fungos?
O diagnóstico da EI fúngica exige alta suspeição clínica, principalmente em casos de hemocultura negativa. Os agentes mais comuns são Candida spp. e Aspergillus spp., sendo este último responsável por muitos casos de endocardite com hemoculturas negativas (BCNIE).
Fontes de infecção fúngica incluem:
pele, cavidade oral, TGI ou trato geniturinário;
inoculação direta (PWID, procedimentos invasivos);
exposição hospitalar (incluindo cirurgias e técnicas transcateter).
Abordagem Diagnóstica Recomendada:
Hemoculturas + sorologias (Candida, Aspergillus, Bartonella, Coxiella, Brucella, Legionella);
PCR específicas em sangue e tecido valvar (Candida, Aspergillus, Tropheryma whipplei);
Sequenciamento de 18S rRNA em tecidos;
Histopatologia valvar com colorações especiais e imuno-histoquímica.
Terapia Antifúngica Inicial
O tratamento exige terapia antifúngica combinada, iniciada precocemente:
Candida: equinocandina em altas doses ou anfotericina B lipossomal ± flucitosina.
Aspergillus: voriconazol é a droga de escolha. Pode-se associar equinocandina ou anfotericina B.
Terapia supressiva oral (fluconazol ou voriconazol) de longo prazo, frequentemente por toda a vida.
Errata: não façam como eu fiz no vídeo acima — chamar antifúngico de antibiótico! A terminologia correta é essencial, especialmente ao tratar infecções tão graves como a endocardite fúngica.
Indicação Cirúrgica: Baixo limiar
Diferente da EI bacteriana, a endocardite fúngica exige cirurgia precoce, com baixo limiar para intervenção. Isso se deve à:
rápida destruição valvar,
formação de vegetações volumosas e friáveis,
alta taxa de embolização sistêmica,
resposta limitada à terapia medicamentosa isolada.


Imagem do caso publicado por Tyszka et al. no JACC: Case Reports (2025) mostra uma endocardite fúngica em prótese mitral, com vegetação escurecida e extensa aderida aos folhetos da prótese (2). Relato muito interessante para perceber os desafios do diagnóstico e tratamento da endocardite fúngica.
Take-home message:
Suspeite de endocardite fúngica em pacientes com hemoculturas negativas e história de implante de prótese valvar, imunossupressão e/ou uso de drogas injetáveis.
Use sorologias, PCR e histologia na suspeita
Trate precocemente com antifúngicos e cirurgia – operar o mais breve possível!"
Referência:
Victoria Delgado, Nina Ajmone Marsan, Suzanne de Waha, Nikolaos Bonaros, Margarita Brida, Haran Burri, Stefano Caselli, Torsten Doenst, Stephane Ederhy, Paola Anna Erba, Dan Foldager, Emil L Fosbøl, Jan Kovac, Carlos A Mestres, Owen I Miller, Jose M Miro, Michal Pazdernik, Maria Nazarena Pizzi, Eduard Quintana, Trine Bernholdt Rasmussen, Arsen D Ristić, Josep Rodés-Cabau, Alessandro Sionis, Liesl Joanna Zühlke, Michael A Borger, ESC Scientific Document Group , 2023 ESC Guidelines for the management of endocarditis: Developed by the task force on the management of endocarditis of the European Society of Cardiology (ESC) Endorsed by the European Association for Cardio-Thoracic Surgery (EACTS) and the European Association of Nuclear Medicine (EANM), European Heart Journal, Volume 44, Issue 39, 14 October 2023, Pages 3948–4042, https://doi.org/10.1093/eurheartj/ehad193
Tyszka, A, Machado, M, El Ghoz, H. et al. Prosthetic Mitral Valve Fungal Endocarditis: Challenges in Diagnosis and Management. J Am Coll Cardiol Case Rep. 2025 Jul, 30 (17) https://doi.org/10.1016/j.jaccas.2025.103868
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