QRS FRAGMENTADO: qual a definição do fQRS e sua importância clínica?
DEFINIÇÃO:
O QRS fragmentado (fQRS) é definido como espículas adicionais dentro do complexo QRS.
Em outras palavras, no fQRS há presença de ondas R adicionais ou um entalhe na extremidade da onda R ou S (fragmentação) em duas derivações contíguas correspondentes a um território coronário.
Figura 01: demonstrando os mais variados padrões de fQRS
Figura 02: ECG 12 derivações demonstrando a presença de fQRS na parede inferior (DII, DIII e AVF)
Originalmente o fQRS foi definido apenas para QRS estreito (< 120 ms). Porém, Das et al. englobou o conceito para os complexos QRS largos (≥ 120 ms), como os que ocorrem no bloqueio de ramo, QRS estimulado (por um marcapasso, por exemplo) ou complexos ventriculares prematuros (extrassístoles).
Dessa forma, um QRS com ondas R' ou entalhes na onda R ou S em um complexo QRS largo em 2 derivações contíguas, pode ser considerado fQRS, especialmente quando os entalhes estiverem separados por mais de 40 ms (corresponde a um quadradinho horizontal no ECG)
Figura 03: Padrão do fQRS no contexto de bloqueio de ramo direito (right BBB) e esquerdo (left BBB)
O conceito de pelo menos duas derivações é amplamente aceito para a definição clássica de fQRS, porém, alguns estudos demonstram que a presença fQRS em apenas uma derivação também está associada com mau prognóstico, especialmente no contexto da síndrome coronariana aguda.
Figura 04: Observem a presença do supradesnivelamento na parede anterior e a presença de fQRS apenas na derivação V3 (referência 02)
IMPORTÂNCIA CLÍNICA.
QRS fragmentado (fQRS) vem sendo considerado um marcador de cicatriz/fibrose miocárdica.
É de conhecimento amplo que áreas de fibrose no músculo cardíaco podem se tornar substratos para taquiarritmias ventriculares reentrantes.
Dessa forma, o fQRS tem ganhado espaço como preditor de taquiarritmia ventricular e mau prognóstico, notadamente em pacientes com doença arterial coronariana (DAC).
Figura 05: Estudos de imagens demonstram a correlação entre fibrose miocárdica vs. fQRS.
Não apenas na DAC o fQRS tem sido estudado. A literatura sobre fQRS demonstra associações com outras condições clínicas tais como cardiomiopatias, doença cardíaca valvar, dissecção aórtica, embolia pulmonar, doença cardíaca congênita e canalopatias cardíacas.
Especificamente no grupo de pacientes com cardiopatia congênita, uma análise retrospectiva publicada no The American Journal of Cardiology (Referência 04), acende o alerta da possível associação entre a presença de fQRS e taquiarritmia ventricular na população portadora de cardiopatia congênita.
Em resumo:
fQRS = espículas adicionais dentro do complexo QRS = Fibrose miocárdica = risco de arritmias cardíacas.
REFERÊNCIAS
1. Supreeth, R & Johnson, Francis. (2019). Fragmented QRS - Its significance. Indian pacing and electrophysiology journal. 20. 10.1016/j.ipej.2019.12.005.
2. Tanriverdi Z, Dursun H, Colluoglu T, Kaya D. O QRS Fragmentado de Derivação Única Pode Predizer Mau Prognóstico em Pacientes STEMI Agudos com Revascularização. Arq. Bras. Cardiol. 2017;109(3):213-21.
4. Usefulness of Fragmented QRS Complexes in Patients With Congenital Heart Disease to Predict Ventricular Tachyarrhythmias Vogels, Rogier J. et al. American Journal of Cardiology, Volume 119, Issue 1, 126 - 131
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