Miocardiopatia Hipertrófica Obstrutiva (MHO)
- Bruno Holz
- há 3 dias
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1. Fisiopatologia 🧬
A Miocardiopatia Hipertrófica Obstrutiva é caracterizada por:
- Hipertrofia assimétrica do septo interventricular;
- Obstrução dinâmica do trato de saída do ventrículo esquerdo (TSVE);
- Movimento anterior sistólico da valva mitral (SAM);
- Disfunção diastólica e isquemia miocárdica.
Fatores que agravam a obstrução: hipovolemia, vasodilatação, uso de inotópicos, manobras de Valsalva, taquicardia.
2. Sinais e Sintomas 🩺
- Dispneia aos esforços (60-70%);
- Angina (25-30% mesmo sem DAC);
- Síncope ou pré-síncope;
- Palpitações;
- Morte súbita (sobretudo em jovens atletas).
Achados ao exame físico: sopro sistólico em borda esternal esquerda baixa, que aumenta com Valsalva e ortostatismo.
3. Indicação de Intervenção 🧾
A intervenção é indicada nos pacientes sintomáticos (NYHA III-IV) com gradiente TSVE >50 mmHg, refratários ao tratamento farmacológico otimizado (betabloqueadores, verapamil ou disopiramida).
Indicações adicionais:
- Morte súbita abortada ou taquicardia ventricular sustentada;
- Episódios de síncope recorrente;
- História familiar de morte súbita precoce;
- Realce tardio importante à RMC;
- Espessura septal >30 mm.
4. Tipos de Intervenção 🛠️
Tabela: Comparativo das Intervenções na MHO

1. Miectomia Septal (Cirurgia de Morrow)
Classe de Recomendação: I, Nível de Evidência: B (ESC 2023; AHA/ACC 2020)
- Considerada o padrão-ouro para pacientes com MHO obstrutiva refratária.
- Consiste na ressecção do septo interventricular hipertrófico
- O objetivo é eliminar a obstrução do TSVE e o movimento sistólico anterior da valva mitral (SAM), reduzindo o gradiente intraventricular.
- A miotomia é feita entre as cordas tendíneas anteriores da mitral, tipicamente retirando 1,5-2 cm de músculo septal com 0,5-1 cm de profundidade.
- A mortalidade é <1% em centros com alta experiência.
- Resultados duradouros com melhora funcional significativa (classe funcional NYHA I-II em >90% dos casos).
- Pode ser combinada com plastia mitral se houver regurgitação associada significativa.
Acessos Cirúrgicos Possíveis:
Acesso transaórtico (via esternotomia mediana): abordagem padrão, com exposição direta do septo interventricular através da valva aórtica.
Acesso transatrial/transmitral: usado em casos de anatomia desfavorável ou necessidade de correção concomitante de lesões mitrais.
Acesso transapical: descrito em abordagens minimamente invasivas, com uso de técnicas assistidas por imagem para guiar a ressecção.
✅ A escolha do acesso depende da experiência do centro, da anatomia septal e da presença de lesões valvares associadas.Classe de Recomendação: I, Nível de Evidência: B (ESC 2023; AHA/ACC 2020)
2. Ablação Septal por Álcool
- Alternativa em pacientes de alto risco cirúrgico.
- Risco maior de BAVT e necessidade de marcapasso.
3. Novas terapias farmacológicas (ex: Mavacamten)
- Inibidor seletivo da ATPase da miosina. Reduz gradiente e sintomas.
📌 Observação sobre Marcapasso em MHO: O marcapasso não é considerado uma terapia de primeira linha para MHO obstrutiva. No entanto, pode ser considerado em situações muito selecionadas:
Pacientes idosos com MHO e sintomas persistentes, não candidatos à miectomia ou à ablação septal;
Quando há bloqueios AV ou bradicardia significativa associados;
Como terapia adicional para reduzir o gradiente em pacientes refratários e de alto risco cirúrgico (Classe IIb, Nível de Evidência C).
💡 Estudos mostram que o pacing do ventrículo direito pode reduzir modestamente o gradiente de obstrução, mas os benefícios clínicos são limitados comparados à miectomia. Portanto, é uma opção secundária muito restrita.
5. Sobrevida e Prognóstico 📅
- Pacientes tratados adequadamente têm sobrevida semelhante à população geral.
- Risco de morte súbita <1% ao ano com estratificação adequada.
- CDI indicado para prevenção secundária e em alto risco (ESC HCM Risk-SCD Score).
Referências Bibliográficas 📚
1. Ommen SR et al. 2020 AHA/ACC Guideline for the Diagnosis and Treatment of Patients With Hypertrophic Cardiomyopathy. Circulation. 2020.
2. Elliott PM et al. 2023 ESC Guidelines for the management of hypertrophic cardiomyopathy. Eur Heart J. 2023.
3. Kirklin/Barratt-Boyes Cardiac Surgery, 4th ed. - Chapter on Hypertrophic Obstructive Cardiomyopathy.
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