Quais são as características anatômicas que definem as câmaras cardíacas? (As bases da congênita)
As características anatômicas dos segmentos cardíacos apresentam diferenças distintas entre o átrio direito e esquerdo, assim como entre o ventrículo direito e esquerdo. Essa afirmação pode parecer óbvia, mas, no âmbito da cardiopatia congênita, onde diversas malformações podem alterar a conexão e morfologia dos segmentos cardíacos, alguns detalhes anatômicos fazem a diferença.
Portanto, é de extrema importância que o cardiopediatra ou cirurgião cardíaco tenha o conhecimento detalhado das características das câmaras cardíacas, pois, ele é essenciais para interpretação de imagens diagnósticas, como ecocardiogramas e ressonâncias magnéticas, com maior precisão, auxiliando o diagnóstico preciso de anomalias cardíacas congênitas e o planejamento de intervenções cirúrgicas.
Dois grandes exemplos do uso deste conhecimento é quando o paciente apresenta isomerismo atrial ou ventrículo único. Nessas condições, o que irá definir se a câmara cardíaca é direita ou esquerda será suas caractéristicas anatômicas básicas, que serão discutidas a seguir,
Começando pelo átrio direito, podemos observar algumas estruturas marcantes. O limbo da fossa oval é uma delas, constituindo uma borda saliente que circunda a abertura da fossa oval no septo interatrial.
Além disso, o átrio direito possui um apêndice piramidal grande e de base larga, que se projeta para fora da cavidade atrial. Outra característica é a crista terminal, uma elevação muscular na face interna no átrio que se estende da abertura da veia cava superior até a válvula tricúspide. O átrio direito também apresenta músculos pectíneos, que são projeções musculares em forma de pregas encontradas em suas paredes internas.
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Passando para o ventrículo direito, podemos observar algumas particularidades. Ele possui trabeculação grosseira, ou seja, a presença de múltiplas e proeminentes trabéculas musculares em suas paredes internas. Além disso, há bandas septais e parietais, que são espessamentos musculares localizados no interior do ventrículo. Outra característica é o infundíbulo muscular, uma área de contração muscular especializada que fica próxima à base do trato de saída do ventrículo direito. Vale destacar também a descontinuidade entre as válvulas, indicando que não há uma conexão direta entre as valvas atrioventriculares (tricúspide) e semilunares (pulmonar).
Diversas imagens anatômicas e de imagem (ECO e RM) demonstrando as marcas anatômicas do ventrículo direito.
No átrio esquerdo, algumas características são distintas em relação ao átrio direito. O átrio esquerdo apresenta um apêndice pequeno, quando comparado ao do átrio direito. Diferentemente do átrio direito, o átrio esquerdo não possui crista terminal nem músculos pectíneos.
O isomerismo do apêndice atrial se refere a uma condição congênita em que há um desenvolvimento ou arranjo anormal dos apêndices atriais. O isomerismo direito é caracterizado por apêndices atriais direitos piramidais bilaterais de base larga, enquanto o isomerismo esquerdo é identificado por apêndices atriais esquerdos bilaterais semelhantes a dedos. Existem quatro variações possíveis de isomerismo do apêndice atrial, incluindo o arranjo usual (A), arranjo espelhado (B), isomerismo do apêndice atrial direito (C) e isomerismo do apêndice atrial esquerdo (D). Esses marcos anatômicos é que ajudam a definir essa condição, que pode estar associada a outras malformações complexas.
Fonte: Referência 02
Por fim, o ventrículo esquerdo também possui características anatômicas diferentes em comparação com o ventrículo direito. Ele apresenta trabeculação fina, ou seja, suas paredes internas possuem trabéculas musculares menos proeminentes. O ventrículo esquerdo não possui banda septal ou parietal, ao contrário do ventrículo direito. Também não há a presença do infundíbulo muscular, uma área especializada de contração muscular encontrada no ventrículo direito. Além disso, é importante ressaltar que há continuidade entre as válvulas no ventrículo esquerdo, indicando uma conexão direta entre as valvas atrioventriculares (mitral) e semilunares (aórtica).
Neste vídeo, demonstro, em um modelo 3D, algumas diferências entre o ventrículo esquerdo e o ventrículo direito., flagrando o diferente padrão das suas trabeculações.
EM RESUMO:
Átrio direito
• Limbo da fossa oval
• Apêndice piramidal grande
• Crista terminal
• Músculos pectíneos
Ventrículo direito
• Trabeculação grosseira
• Bandas septais e parietais
• lnfundíbulo muscular
• Descontinuidade entre as
válvulas
Átrio esquerdo
• Apêndice pequeno (forma de dedo)
• Ausência de crista terminal
• Ausência dos músculos pectíneos
Ventrículo esquerdo
• Trabeculação fina
• Ausência de banda septal ou parietal
• Ausência do infundíbulo
• Continuidade entre as válvulas
Referências:
Santos CCL, Figueira FAMS, Moraes F. Conexão atrioventricular univentricular. ln: Croti UA, Mattos SS, Pinto Jr. VC, Aiello VD,Moreira VM. Cardiologia e cirurgia cardiovascular pediátrica. 2ª ed. São Paulo:Roca;2012. p. 725-48.
Saba, Thomas & Geddes, Gabrielle & Ware, Stephanie & Schidlow, David & del Nido, Pedro & Rubalcava, Nathan & Gadepalli, Samir & Stillwell, Terri & Griffiths, Anne & Murphy, Laura & Barber, Andrew & Leigh, Margaret & Sabin, Necia & Shapiro, Adam. (2022). A multi-disciplinary, comprehensive approach to management of children with heterotaxy. Orphanet Journal of Rare Diseases. 17. 10.1186/s13023-022-02515-2.
https://blog.escolaecope.com.br/anatomia-ecocardiografica-do-atrio-direito/
Atlas of Cardiac Anatomy, Digital Edition © 2022 Shumpei Mori, Kalyanam Shivkumar
Mostefa-Kara, M., Houyel, L. & Bonnet, D. Anatomy of the ventricular septal defect in congenital heart defects: a random association?. Orphanet J Rare Dis 13, 118 (2018). https://doi.org/10.1186/s13023-018-0861-z
https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S2214854X19300482
https://onlinelibrary.wiley.com/doi/abs/10.1111/echo.13651
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