top of page
Foto do escritorLaio Wanderley

Quais são as características anatômicas que definem as câmaras cardíacas? (As bases da congênita)

As características anatômicas dos segmentos cardíacos apresentam diferenças distintas entre o átrio direito e esquerdo, assim como entre o ventrículo direito e esquerdo. Essa afirmação pode parecer óbvia, mas, no âmbito da cardiopatia congênita, onde diversas malformações podem alterar a conexão e morfologia dos segmentos cardíacos, alguns detalhes anatômicos fazem a diferença.


Portanto, é de extrema importância que o cardiopediatra ou cirurgião cardíaco tenha o conhecimento detalhado das características das câmaras cardíacas, pois, ele é essenciais para interpretação de imagens diagnósticas, como ecocardiogramas e ressonâncias magnéticas, com maior precisão, auxiliando o diagnóstico preciso de anomalias cardíacas congênitas e o planejamento de intervenções cirúrgicas.


Dois grandes exemplos do uso deste conhecimento é quando o paciente apresenta isomerismo atrial ou ventrículo único. Nessas condições, o que irá definir se a câmara cardíaca é direita ou esquerda será suas caractéristicas anatômicas básicas, que serão discutidas a seguir,


Começando pelo átrio direito, podemos observar algumas estruturas marcantes. O limbo da fossa oval é uma delas, constituindo uma borda saliente que circunda a abertura da fossa oval no septo interatrial.

Além disso, o átrio direito possui um apêndice piramidal grande e de base larga, que se projeta para fora da cavidade atrial. Outra característica é a crista terminal, uma elevação muscular na face interna no átrio que se estende da abertura da veia cava superior até a válvula tricúspide. O átrio direito também apresenta músculos pectíneos, que são projeções musculares em forma de pregas encontradas em suas paredes internas.


A fonte das imagens anatômicas provem do belíssimo livro de anatomia "Atlas of Cardiac Anatomy, Digital Edition © 2022 Shumpei Mori, Kalyanam Shivkumar" . No site cardiotextpublishing.com/electrophysiology-heart-rhythm-mgmt/atlas-of-cardiac-anatomy ,é possível comprá-lo atualizado.


Passando para o ventrículo direito, podemos observar algumas particularidades. Ele possui trabeculação grosseira, ou seja, a presença de múltiplas e proeminentes trabéculas musculares em suas paredes internas. Além disso, há bandas septais e parietais, que são espessamentos musculares localizados no interior do ventrículo. Outra característica é o infundíbulo muscular, uma área de contração muscular especializada que fica próxima à base do trato de saída do ventrículo direito. Vale destacar também a descontinuidade entre as válvulas, indicando que não há uma conexão direta entre as valvas atrioventriculares (tricúspide) e semilunares (pulmonar).


Diversas imagens anatômicas e de imagem (ECO e RM) demonstrando as marcas anatômicas do ventrículo direito.


No átrio esquerdo, algumas características são distintas em relação ao átrio direito. O átrio esquerdo apresenta um apêndice pequeno, quando comparado ao do átrio direito. Diferentemente do átrio direito, o átrio esquerdo não possui crista terminal nem músculos pectíneos.



O isomerismo do apêndice atrial se refere a uma condição congênita em que há um desenvolvimento ou arranjo anormal dos apêndices atriais. O isomerismo direito é caracterizado por apêndices atriais direitos piramidais bilaterais de base larga, enquanto o isomerismo esquerdo é identificado por apêndices atriais esquerdos bilaterais semelhantes a dedos. Existem quatro variações possíveis de isomerismo do apêndice atrial, incluindo o arranjo usual (A), arranjo espelhado (B), isomerismo do apêndice atrial direito (C) e isomerismo do apêndice atrial esquerdo (D). Esses marcos anatômicos é que ajudam a definir essa condição, que pode estar associada a outras malformações complexas.

Fonte: Referência 02


Por fim, o ventrículo esquerdo também possui características anatômicas diferentes em comparação com o ventrículo direito. Ele apresenta trabeculação fina, ou seja, suas paredes internas possuem trabéculas musculares menos proeminentes. O ventrículo esquerdo não possui banda septal ou parietal, ao contrário do ventrículo direito. Também não há a presença do infundíbulo muscular, uma área especializada de contração muscular encontrada no ventrículo direito. Além disso, é importante ressaltar que há continuidade entre as válvulas no ventrículo esquerdo, indicando uma conexão direta entre as valvas atrioventriculares (mitral) e semilunares (aórtica).

Neste vídeo, demonstro, em um modelo 3D, algumas diferências entre o ventrículo esquerdo e o ventrículo direito., flagrando o diferente padrão das suas trabeculações.


EM RESUMO:


Átrio direito

• Limbo da fossa oval

• Apêndice piramidal grande

• Crista terminal

• Músculos pectíneos


Ventrículo direito

• Trabeculação grosseira

• Bandas septais e parietais

• lnfundíbulo muscular

• Descontinuidade entre as

válvulas


Átrio esquerdo

• Apêndice pequeno (forma de dedo)

• Ausência de crista terminal

• Ausência dos músculos pectíneos


Ventrículo esquerdo

• Trabeculação fina

• Ausência de banda septal ou parietal

• Ausência do infundíbulo

• Continuidade entre as válvulas


Referências:

  1. Santos CCL, Figueira FAMS, Moraes F. Conexão atrioventricular univentricular. ln: Croti UA, Mattos SS, Pinto Jr. VC, Aiello VD,Moreira VM. Cardiologia e cirurgia cardiovascular pediátrica. 2ª ed. São Paulo:Roca;2012. p. 725-48.

  2. Saba, Thomas & Geddes, Gabrielle & Ware, Stephanie & Schidlow, David & del Nido, Pedro & Rubalcava, Nathan & Gadepalli, Samir & Stillwell, Terri & Griffiths, Anne & Murphy, Laura & Barber, Andrew & Leigh, Margaret & Sabin, Necia & Shapiro, Adam. (2022). A multi-disciplinary, comprehensive approach to management of children with heterotaxy. Orphanet Journal of Rare Diseases. 17. 10.1186/s13023-022-02515-2.

  3. https://blog.escolaecope.com.br/anatomia-ecocardiografica-do-atrio-direito/

  4. Atlas of Cardiac Anatomy, Digital Edition © 2022 Shumpei Mori, Kalyanam Shivkumar

  5. Mostefa-Kara, M., Houyel, L. & Bonnet, D. Anatomy of the ventricular septal defect in congenital heart defects: a random association?. Orphanet J Rare Dis 13, 118 (2018). https://doi.org/10.1186/s13023-018-0861-z

  6. https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S2214854X19300482

  7. https://onlinelibrary.wiley.com/doi/abs/10.1111/echo.13651

Commentaires


Posts Em Destaque
Posts Recentes